sexta-feira, 30 de abril de 2010

palhaço da nuvem negra

deixa eu brincar de ser feliz,
deixa eu pintar o meu nariz...

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Esboço dos sonhos.

Quando se olhava os dois daquele jeito, parecia até que havia uma comunicação telepática entre aqueles corpos lânguidos deitados no sofá. Pareciam escorrer pelo sofá vermelho-encardido, como os vermes quando se escoram, fugidos de algum predador aéreo.

Guilherme, que horas são hein?!
Shhh!!!- olhando a tv- Ela tá prestes a responder a última pergunta!

Era a pergunta de um milhão de reais que a senhora gordinha de cabelos vermelhos tingidos deveria responder para que aquela hora se tornasse a hora da transformação da senhora gordinha de cabelos vermelhos em "não me chamem mais assim!agora tenho um milhão!"

Guilherme ansiava por aquele momento, o momento em que testemunharia algum tipo de mudança, que não fosse a do sabor do salgadinho que enfiava na boca nas tarde em frente à tv.

Sério meu!Que horas são? Olha aí vai, tô com preguiça de levantar...
Porra Yara! Concentra, ela tá prestes a ganhar um milhão!
Meu, se nem conhece a velha!
Não interessa! Podia ser você lá, ou eu....

Guilherme então imaginou-se do outro lado da tela, vestido em uma enorme saia marrom-sem-gra-ça, com um camisa florida enfiada para dentro dela. No rosto, em cujo as bochechas se destacavam pelo excesso de blush, um óculos grande e redondo de aro transparente - seria miopia, ou vista cansada?- nos pés, um par de sapatos bege com salto baixo, nos dedos um anel de brilhante falso e a aliança do falecido na mão esquerda. Imaginou o suor correndo sobre a maquiagem impermeável. No peito as batidas fortes da esperança de finalmente ser alguém.
Imaginou-se então, ainda como a velha, sentado no meio da sala de uma apartamento enorme e cheio de móveis coloniais e fotos do que já foi, em cores pálidas. Um grande apartamento enorme de vazios, de espaços cheios de ar e poeira que a faxineira limpava uma vez por semana. Tentou imaginar porque ele, como velha, abria os olhos todos os dias pela manhã...
Para ganhar um milhão!- pensou.

Pronto, ela perdeu, agora você pode me dizer que horas são?
Ahn?! Ah... o que?
Ela perdeu, respondeu errado, você não tava prestando atenção?
Nossa, viajei...São 12:30...
Porra...tô atrasada!

As paredes da casa então foram desaparecendo, as fotos, a poeira, o vazio. As roupas foram também sumindo. A peruca vermelha arrancada. Os anéis evaporados, e ele era novamente Guilherme no sofá com um saco de salgadinhos vazio na mão.
Restava-lhe no entanto no peito um coração. Aquele coração cujas batidas ele conhecia bem. Seriam aquelas batidas dele ou da velha? Ou será que dividiam, os dois, as mesmas batidas? Ou até o mesmo coração?

Porque acordo todos os dias de manhã?

Não havia ninguém, Yara tinha escorregado para fora do sofá, como um verme seguindo seu irremediável destino, o que deu a Guilherme até um certo alívio.

Porque acordo todos os dias de manhã?

Olhou a tv por um instante e pensou que certamente a produção do programa havia de dar um presente para a velha, um prêmio de consolação, mil reais que fosse, alguma coisa pelo menos.
No seu rosto então um sorriso aliviado se formou, por conta da mentira que acabara de inventar a ele mesmo, e com a qual havia ele enganado a si próprio.
Pronto, agora podia mudar de canal.

terça-feira, 6 de abril de 2010

Será que chovo tanto no molhado?

Um dia, há uns 2 anos, brincávamos de " se ela fosse ....( complete como quiser), o que seria?"


- A Mafe, se fosse uma placa...seria...seria...?

-...

- Seria: Cuidado, pista escorregadia.