terça-feira, 9 de julho de 2013

Cartas de (des)amor ou Paleontologia-Arqueológica dos amores partidos.

Pesquisadora de mim procuro em meio a ruínas de construções antigas e destroços de ossada submersos – eu sou água e terra- pedaços que me testemunhem o que em mim se uniu ou quis se unir a você.Não consigo me lembrar. Sei bem o que em você se uniu a mim, você viu em mim uma outra possibilidade de você, uma coragem que lhe faltava, cores que você nem sabia que existiam. Eu lembro de tudo que você me disse sobre você, lembro de tudo que você disse sobre mim. Procuro em meio a todos os segredos que nunca te contei.
Existe um buraco bem no meio do precipício, mas só quem pula ou é empurrado pode ver é um pequeno e infinito aspirador de calar-mes... Me perdoa. Ultimamente ando tropeçando em reticências, ando tropeçando em pequenos três pedacinhos de mim por vez.  Me perdoa. Eu nunca confiei em você, eu nunca confiei em ninguém. Aquela coragem que você via em mim, foi você que construiu ali, quer dizer aqui. Você inventou algo em mim e eu acreditei, você acreditou, mas nós sabíamos que estávamos mentindo, sabíamos que você depositou aquela coragem em mim pra que ela não pesasse tanto em você e você não tivesse que assumir o que tanto temia, eu sempre tive tanto medo que você fizesse isso, mas nem disso eu sabia, não sabia que se eu não tivesse recebido com tanta generosidade tudo de incrível e forte que havia em você esse pacote todo seria seu e seria bem maior que o medo.Você encararia com elegância e graciosidade tudo que estava destinado a nós ou me encararia de frente pedindo seu pacote de volta e iria embora de uma vez por todas. Aí sim teríamos algo de verdadeiro e palpável. Tudo que vivemos me parece mais como um sonho que se tem a sensação de muito longo mas que sabemos que durou no máximo dez minutos. Calma, eu não estou desmerecendo o que vivemos, pelo contrário. Sempre fui extremamente platônica, dou muito valor às construções poéticas de universos particulares, sempre gostei de viver mais lá do que aqui, você sabe. Via em você algum tipo de projeto do que achava ser melhor para nós. Quanto tempo será que perdi e te fiz perder sofrendo por uma idealização de você? Talvez todo ele.Tenho saudades do nunca foi. Sempre. Tenho saudades de ter te perdido pelo conflito de interesses, pela discordância do tamanho do nosso futuro castelo, ou em qual lado da nuvem eu deveria dormir ou ainda por qual tipo de molho faríamos para o macarrão, nós teríamos brigado por isso, nós teríamos brigado por muito menos, nos teríamos brigado por algo que existisse de fato e não porque eu sou teimosa e manipuladora de um jeito incrivelmente doce para mascarar o meu medo de conflitos, meu medo de perder o ar – sou água e terra- de um balão que nunca foi cheio, e não porque cansei de esperar algo que nunca viria, não porque eu voltei, não porque eu voltei todas as vezes que você se chutou porta afora - eu estava lá, eu sempre estive lá -  não por amor, mas pra provar que eu estava certa, que eu sabia que você não podia viver sem mim. Você nunca soube disso, nos enganamos direitinho. Talvez até agora você ache que vivemos algum tipo de relacionamento do mundo concreto. Arrogante, sempre fui prepotente, sempre me achei muito especial, achei que tinha vindo ao mundo para fazer a diferença na sua vida e te ensinar o que é o amor. Anjo negro. Nos mostrei o avesso do amor, seu outro lado, suas víceras e tripas, você achava que o amor eram aqueles coraçõezinhos vermelhos.Ninguém gosta de mostrar, nem de ver, as entranhas do que parece doce, mas até aquele momento era o só que eu conhecia dele e continuo achando lindo e extremamente atraente o gosto amargo de seu sangue .Quem teria te mostrado isso? Você na faz ideia do quanto de mim sofreu por sofrer tanto por nós. Lembrei-me agora da primeira e ultima vez que você segurou minha mão em público, tive que achar banal, eu tive que fingir não me espantar para que só você pudesse ter o privilégio de transformar esse momento em uma enorme crise que levou a mais um rompimento, quantos motivos eu não construir e ti fiz abraçar para que alguém ali acabasse logo com tudo aquilo? É claro que aquele alguém nunca podia ter sido eu, sua coragem não era do meu numero, sempre ficou meio folgada em mim. Éramos adolescentes, não? Pergunto-me se algum dia eu terminarei de fazer essa transição para a “vida adulta” ou se sempre darei essa desculpa pra tudo. Pergunto-me o quanto de mim pelo qual você se apaixonou eu tive que matar para que sobrevivesse apenas aquela que era obcecada por você- aquela que você odiava- sobrevivesse. Tudo, eu tive que afogar tudo em mim – sou água e terra- que era meu para poder amar-te daquele jeito, respiro bem embaixo d’água mas confesso que já estava com os pulmões quase completamente cheios de água quando você pisou no meu peito. Obrigada. Aqui eu devo te agradecer, não por ter me feito mais forte porque me propiciou sofrimento e blábláblá, sempre fui boa em ser forte, em escalar o poço com as unhas, o que sempre me faltou foi a fragilidade, ela sempre apareceu em mim como um Ogro desengonçado tentando acariciar uma joaninha. Chorar litros na sua frente e ser sarcástica e vil pela suas costas, fazer ceninhas e escândalos intermináveis, isso sempre foi fácil,isso não é fragilidade é orgulho, esse mesmo que eu sempre digo que não tenho. Docilizar o Ogro para que ele possa trabalhar no circo. Ele não quer trabalhar no circo, ele quer ser bailarino de flamenco. Por mais que eu finja que não sei, eu sei. Você me devolveu aquele ar do balão que nunca havia estado lá. Você fazia aqueles bolas de cristal flutuarem sobre seu corpo e me deixava encantada, você fazia malabares com fogo e eu admirava. Sendo sua espectadora, eu aprendi a ser a minha. Não joguei sua ossada nem os destroços de nossas construções imperfeitas fora, nem nunca vou jogar, eles repousarão sempre no fundo do meu oceano por debaixo da areia fina e branca e podem ser postos a tona sempre que escafandristas se dispuserem e descobrir os tecidos microscópicos do cálcio espesso do amor. Talvez se tivéssemos nos encontrado na superfície marítima e não tentado entender a origem da imensidão do oceano, afundando assim nossas intensidades cada vez mais profundas, não tivéssemos ficado estanques como ancoras cheias de musgo.



[Não se afobe não que nada é pra já, o amor não tem pressa ele pode esperar ( para se deteriorar)]

sábado, 20 de abril de 2013

Vive-te

[ Uma reflexão sobre ser e não ser que fiz aos dezoito anos. E que revi aos vinte. E depois aos vinte e três. E que resolvi postar hoje, aos vinte e cinco.Ela nunca parou de fazer sentido.]



Morrer.



É. É disso que eu preciso. De morrer.



Vida?



Era tudo muito...muito...muito. Ou seria muito pouco? Não queria mais repetir as palavras sem parar até que se tornassem estranhas ao pronunciamento de sua própria voz. Era muito complexa a simplicidade dos inexplicáveis lampejos que cortavam sua alma de quando em quando, durando o exato interminável tempo de um instante. Que começava e terminava bem ali, diante de seus olhos, sem que pudesse captura-los. Tocava-os assim. Mas eles logo escorriam por entre seus dedos e evaporavam.



Tempo?



Porque sabia-se dele apenas que passava. “O tempo passa”, não é? Quem disse? Quem disse que era esse o tempo? Não importa....Aprendia-se o que é tempo pelo movimento dos ponteiros do relógio, pelas folhas do calendário, pela contagem dos anos em coloridas velas reusáveis.

Mas nada tinha o tempo a ver com horas, ou dias ou anos. Concretizou-se algo abstrato ,e se impôs. Não tenho tempo para nada! - lhe diziam. Como se podia não ter algo que já não se tinha antes mesmo de tê-lo perdido? O que sabia é que já havia jogado as horas no lixo a muito...a muito...a muito tempo, por mais irônico que isso pudesse parecer para ela. O tempo não é igual, cada pessoa tem um tempo e cada tempo tem uma pessoa. Mania de quererem (ou seria querermos?) padronizar as coisas!

A falta de palavras que pudessem expressar o tempo a incomodava. Incomodava muito. Porque não existia.



E as palavras?



Aquelas que haviam sempre sido o seu refúgio, o único, voltavam-se agora contra ela por falta de existir. Elas limitavam-na, prendiam-na no previsível, na gaiola de onde sempre fugia para se encontrar com o conforto que a letras a traziam. Traidoras. Até elas, até as palavras haviam-na traído.

Tudo eram todos e nenhum nela e para ela se encaixava perfeitamente, assim como uma multidão que se move pela inércia alheia sem pensar.

“Eu vou, eu quero, eu sou”.

Eles todos repetiam constantemente para si, para não se esquecerem dos motivos. Os motivos. Os motivos. Que eram mesmo os motivos? Quais eram mesmo os motivos? Viver para. Esses eram os motivos. Viver para. Viver para algo. Viver então só é quando existe para alguém ou alguma coisa, viver pra si não se basta, viver é obrigatoriamente recíproco, se você der sorte, senão viver é um eterno amor não correspondido. Haveria sempre aquela saudade do que não existiu. Era assim desde o começo. E quem contestava? Quem contestava, quem contestava, acabava. Porque é esse o questionamento. E é tão vasto quanto é essencial, e por ser essencial não existe. Até o momento em que nasce! E morre. Assim mesmo prematuro, do jeito doído e proibido que nascera.

Queria viver-se a si mesma, apenas isto. Será que era pedir muito? Mas não se sabia viver-se, só matar-se. Não fazia sentido, como pode matar-se sem viver-se antes? Porque não existia. Não era dela porque tudo não podia ser, e a falta do palpável impalpável era infinitamente incomoda. Era esse o infinito dela. O infinito. O inexplicável infinito que fora criado já sem se saber o que era. Cria-se algo do qual não se sabe, nasce algo e não se sabe de onde, vai-se algo e não se sabe pra onde, e some-se também sem saber o que é.

Porque se acontecia sem acontecer?

Porque tudo era? Você não é... Sim, eu não sou. Ela não era, e era puramente isso. Era ser do não ser. Devia ser o que não era, mas era o que não devia, e tudo que queria era dever ser. Não dava, ela já era não ser, é quem não é, nunca poderá ser.

E precisava. Mas ninguém entendia o que era precisar. E precisava, e precisava e precisava e ninguém, nada, ou tudo lhe dava.

As lágrimas brotavam dolorosamente de seus olhos e iam expondo, a cada um delas, seu ser-não-ser que ao sair dela própria iam deixando de fazer parte do seu mim, do seu meu, do seu eu. E extinguiam-se. Ela ia se extinguindo a cada instante que externava. Seu pranto eram seus instantes.

Queria ter-se vivido, só isso, mas nunca ninguém havia querido viver-se, e era assim que não se enquadrava, por ser proibida de saber as regras de seu próprio existencialismo, já que nem ela mesma podia, por falta de existir, cria-las. Vivia-se ela assim, na sobrevida, inserida em seu próprio inexistente contexto(na falta de um real que lhe pudesse acolher). Ela era seu próprio contexto. Ela era seu próprio inexistente contexto. Ela era o instante que acabava sem, e não tinha fim.

Nada era perfeito, nada. Ou seria tudo? Mesmo sem existir o perfeito era. Seu contraponto, o imperfeito também era, mas era um indesejadamente ser, assim como ela. E a falta dessa perfeição lhe fazia falta, existia sem existir de fato.



De fato?



A minoria das coisas existia de fato, mas nem por isso deixavam de existir. Com ela era o contrário, ela existia de fato e assim, deixava de existir.

Cansava-se do cotidiano. Sempre com as mesmas e iguais mudanças imprevistas. Cansava-se de andar sem sentido e sem rumo para chegar sempre no mesmo lugar desconhecido, para o qual nunca queria ir, mas onde sempre acabava por se encolher de joelhos em algum canto. Internando seu não ser, como de costume.

Sua não existência ia deixando de existir, seu pranto secava acusando o que acontecia no seu interior. Era como se os sinais vitais de sua alma estivessem fraquejando e sem forças para continuar qualquer tentativa de entender o que não deveria ser entendido. Mas agora que era perguntado não havia mais volta. Porque não existia. Não existia volta das perguntas sem resposta.





[...]

quinta-feira, 14 de março de 2013

Eu Polifonia



Sinto que a vida acontece plena

Em algum lugar

Recôndito

Dentro de mim.

Posso sentir formas assimétricas

Sobrevoando galerias

De segredos escondidos

Esperando para serem tateados e vividos.

A História inteira da humanidade acontece

Simultaneamente

Nas moléculas do meu DNA

Eu sou a humanidade inteira

Por alguns instantes

Sou infinitos fios interpessoais

Que se conectam

A outros infinitos fios

Dispostos a atravessar-me

Sem medo ou julgamento


Afetos

Afetos

Afetos


[A caverna pulsante foi enfim revelada,

agora a vida é fluxo e tempo dilatado]


...


Mas anda, caminha que o tempo

O tempo é aliado

Que o tempo é o próprio caminho

Que se forma no infinito de nós mesmos.

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

O melodioso canto do grilo encarcerado

Toda a minha ludicidade livre do grilo cantor vem sendo achincalhada pelas sandálias de chumbo vestidas nos pés de um enorme gigante. Para fugir de sua mortífera pisada acabei me travestindo de formiga, com uma incomoda e ridícula fantasia um número menor do que eu (era a única que tinha). 
As formigas são mais organizadas, trabalhadoras, traçam planos, conquistam metas, constroem algo palpável, e se esquivam da dança frenética do gigante, agindo como se ele nem existisse, tamanho o perfeito balé que tramaram ancestralmente para esquecerem-se da revigorante dança da morte. Seus ouvidos blindados mal escutam o enorme ruído das sandálias de chumbo. 
Mesmo travestida de formiga exemplar, eu ainda tremo quando os pés de chumbo tocam o chão, e até fico aliviada ao ouvir que o som de suas pesadas e melodiosas batidas ainda estão lá. Nos dois minutos de descanso que tenho por dia (as formigas são incansáveis e perfeitas trabalhadoras exemplares, afinal todo império tem seu preço, né?) ponho minhas patinhas de fora para lembrar do meu verde que tem se tornado tão raro que mal consigo enxerga-lo direito, como um daltonismo a longo prazo (a vida de formiga é sempre tão marrom), e ameaço mexe-las ao som do melodioso batuque, outrora assustador e que hoje me chama para dançar, mas não! Já é hora de voltar para a marcha impecável dos batalhões de formigas sistemáticas. O que existirá para além das sandálias de chumbo? E seu eu fugisse? As formigas certamente notariam, em seu sistema perfeito cada peça é fundamental, e cada grilo que ousa mostrar seu verde é pisoteado pela dança da morte, é posto alí, como uma oferenda e um exemplo para as pseudo-formigas de perninhas verdes. Dentro da roupinha marrom, meu corpo de grilo foi desfigurado para se adequar a ela que tanto me aperta(até hoje), meu pulmão foi comprimindo, a respiração tornou-se curta mas a alma parece ainda querer fugir para dançar o seu vivo verde em campos mais férteis. 

Ah! 

Sem perceber estou dançando em meio a marrom disciplina militar, as trabalhadoras incansáveis assustam-se, e por um precioso minuto param para olhar para minha desengonçada dança, absortas. De olhos fechados sigo dançando em direção ao batuque de chumbo e vou compondo um belíssimo pas de deux com os enormes pés prateados, as formigas soltam um grito abafado de medo e fascinação, enquanto a minha fantasia de formiga vai aos poucos rasgando e se desprendendo do meu corpo desfomre, não tenho mais como fugir, revelei meu verde dançante enfim, e abro os olhos com tamanha felicidade de libertado que me desequilibro e caio de cara no chão. 

Silêncio. 

Levanto-me lentamente e percebo que passei os pés dançantes, eufórica viro o rosto para o lado de lá, para o novo destino, e! 

Deserto. 

A minha frente só areia fina e um grande Sol escaldante sob minha cabeça. Respiro fundo, fecho os olhos e recomeço a minha dança frenética, agora ao som do meu próprio batuque. Resta agora esperar. Vamos ver onde meus pezinhos verdes vão me levar. 

(Vento)

domingo, 14 de outubro de 2012

Preciso de um lugar secreto [ caixas de pequenas ficções]

Não é difícil perder-me. Não aquele perder-se poético do "é preciso perder-se para se encontrar" e blá. É um perder-se esquisito e nebuloso, tipo um buraco negro em forma de aspirador de pó.O peito dói, as ações são evasivas e precárias, como se eu estivesse flutuando inconsciente acima de mim mesma. A gente se entorpece com esse mecanismo maquiavelicamente elaborado e acha estranho e se sente mal quando sem querer nos deligamos dele e temos um brilhante, efusivo e fulgaz lapso de consciência. Aí, aí achamos que estamos loucos, ou que estamos mal e queremos que aquela ensurdecedora consciência real pare! E aí nos entupimos de novo com qualquer mentira enlatada que guardamos num grande estoque protegido por cameras de segurança. Um dia vou contratar um capanga para assaltar esse estoque, só pra ver a minha reação, O que farei sem os meus enlatados? Derrubarei as prateleiras? Roerei as unhas dos pés? Não sei, mas qualquer coisa é melhor do que esse entorpecimento travestido em que vivemos. [ agora me ocorreu: porque usar "nós" ao invés de usar "eu"? Deve ser para me sentir menos sozinha, pra crer, mesmo que de mentirinha, que existem outros como eu. Ou para legitimar o que sinto e escrevo.] Deve ser mesmo muito sozinho depender da aprovação dos outros.

domingo, 23 de janeiro de 2011

Rainha Elizabeth de calças

Sabe como eu sempre digo que eu sou a última cena do Central do Brasil? Então, penso em quantas vezes não consegui sentir saudades de ninguém por uma saudade profunda que tenho de mim mesma, e uma dor por todas as vezes que acho que não sou suficiente. E aí você vai me perguntar: suficiente pra que? Não sei, suficiente pra qualquer coisa, suficiente pra mim. Suficiente pra ser quem eu tenho que ser, ou quem me alma pede pra que eu seja...Eu sei, você vai dizer que é por causa das cicatrizes todas e por causa do meu estranho senso de proteção que ao invés de me fehcar pro mundo, o que seria mais óbvio já que um corpo machucado não vai querer ganhar mais feridas, me faz abrir-me e entrar no comando de um exército de infinitos soldados imaginários,usando armadura nenhuma. Na mão esquerda seguro apenas um estandarte puído de mim mesma, no qual mal lê-se " em busca da verdade",e levo as profundas linhas entranhas, desenhos de mim, na mão direita.
"Devo servir para alguma coisa afinal" eu penso.

Uma folha roxa brilhante voa em frente aos meus olhos molhados.

"Folhas roxas brilhantes não existem", observo encantada. Uma voz ao longe ( que pouco importa se é de alguém que existe ou não), sussurra:

- Não, você não serve pra nada mesmo. E é aí que mora toda a sua beleza.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

A menina e o Caracol

Olá senhor Caracol!
Olá, àlo.
Sabe quanto tempo o Sr.leva?
Levo sotium, menina.
Muitos o que?
Muitos sopmet.
Quantos?
Conte ecov mesma.
Como?
É os acreditar.
Acreditar em que?
( pausa longa)
Não atnaida mais...
Que foi?
Você atse crescendo, é isso.
Não estou!
Está mis.
Para!
Calma, recserc não é ruim.
O senhor não vai mais falar comigo?!
Falarei erpmes. Quem oãn vai falar ogimoc, é você.
Claro que vou! Vou sim!
É a iel natural das sasioc,minha alhif..
O que? Não tô entendendo o que vc diz! Mas que droga!
sueda, ahnim aninem, ieritnes sedaduas, erpmes.
Não vou entender mais o avesso então?
(silêncio)
Hein?!
Responde!!!!

A menina pisa, com toda a força do mundo, com o pé esquerdo descalço no caracol. Seu casco se espatifa em mil pedaço, e seu corpo gosmento se espalha como uma bolha de meleca que se estoura.
Ai!Ai!
A menina salta num pé só e senta-se, impaciente.Cruza a perna esquerda sobre a direta esticada e olha o sangue misturado com uma gosma marrom escorrendo de vários buraquinhos em seu pé, feitos pelos pedaços espatifados da casinha do Senhor Caracol.

Ai, ai! Tá doendo muito, tá doendo! Eca, que nojento! tem uns pedacinhos espetados aqui!Mãe!Oh manhê!

Não havia ninguém, só o eco do seu choro surdo.

( tempo- choro - silêncio - suspiros-pós-choro)

...Entender o avesso irrita, mas matar ele dói, machuca muito. Matei o Senhor Caracol, quem vai ensinar o avesso que se desaprende para as meninas agora?

É, eu também não sei, eu também não sei.