terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Madrugada( para o quadro de Fabian Perez "El Paseo")



A essa hora olho e vejo
as ruas mudando,
as luas girando,
os passos vagando.

O vazio se estende se preenchendo dele mesmo,
do breu.
O medo dorme.
A essa hora não se é nada
Nada existe.
tudo morre.

Nem é noite nem é dia.
È hora de quem mata,
de quem vaga
dos lamentos
das dores
dos mal-amores
dos gritos de desespero
das garrafas quebradas
dos martírios
dos murmúrios.
É hora das perguntas
das insônias
dos covardes
dos que correm
dos que ardem
dos que erram
dos que se mutilam
dos que questionam.
É hora dos epílogos
dos comprimidos de anfetamina
da cafeína
do ácido
da vodca barata
do asfalto gelado
dos sussurro
do êxtase.
É hora do confronto
do conflito
do limite.
É hora do eu.

Ela passeia sozinha.
Dentro dela mesma,
troca passos em falso.
Braços se enlaçam,
alheios.
Olhos se olham,
de esguelha.

A essa hora
Ela não passa de uma lâmpada neon fraca
(de um luminoso de motel barato)
De um meio fio de uma ruela qualquer
De uma sarjeta suja
De um paralelepípedo de pedra molhada.
De um enfeite
um fetiche
De um capricho
um capacho
De uma nota torta de contra-baixo.

Seu grito não tem som.
Seu suor é doce .
Seus pés são frios.
Seus olhos rasos.
Suas mãos espaços.
Cambaleia.
Ela é um nada.
Ela é sombra.

Uma
Sobra.

Um treco
Um teco
Uma pitada
Um tempero
Um digestivo
Um número de ilusionismo
Um abismo
Um prego
Uma tampa
Um tapa
Um troco
Um brinquedo
Uma gorjeta
Um segredo
Um surto
Um distúrbio
Uma pista
O subúrbio
Uma artista.

A essa hora,
Ela.
Ela.
Ela.

Um efeito da madrugada.